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o último blog da terra

  • Foto do escritor: Helena Argolo
    Helena Argolo
  • 17 de jul. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 20 de set. de 2024

a 2 km, diz a placa.


você aqui parada refletindo se segue em frente, faz tanto tempo, valeria a pena voltar atrás como se a bola do mundo não tivesse girado e tanta água raspado as margens?

você era tão diferente da última vez que veio em um lugar assim. era? muitas coisas não são mais as mesmas, ok, por exemplo, você está lendo um texto escrito sem usar o shift para as maiúsculas, seguindo uma tendência fancy-literária muito cômoda para a digitação, ainda que não abra mão dos acentos nas palavras porque tudo tem limite.

o lugar parece o mesmo mas a poeira é muita. você chega aos 37 segundos de cena agora e já arfa um pouco de cansaço, os olhos doem um pouco e a tentação de escanear apenas as palavras-chave daqui para baixo é grande. o cenário parece um grande deserto. suas vistas doem e você não tem mais certeza se consegue ir assim por tantas linhas mais.


nem faz tanto tempo assim, mas olha. parece que faz muito, muito tempo.


você decidiu vir aqui depois de 5 minutos de tristeza e completo silêncio. tem algo faltando em todo mundo que andou por essas paragens naquele tempo, que parece às vezes ser um tempo muito antigo, impossível de se resgatar, e, outras vezes, parece ser só um amigo de quem o número de telefone se perdeu quando trocamos o IPhone por um Android: você pode, você pode só fazer uma busca rápida e encontrar a pessoa de novo, porque ela está logo ali, é o mesmo velho amigo, só um pouco diferente. Somente a 2 km de caminhada. Mais umas linhas.


Pois, você vai. Espirrando, porque a poeira é muita e você anda bastante sensível nesses tempos pós-covídicos. O ambiente todo parece uma carcaça vazia, feito a pele da cobra que ficou muito pequena para o corpo e foi deixada para trás. A poeira sobe e assenta conforme você passa, e muita coisa te parece familiar. Tem um sossego chegando no seu peito, assentando logo abaixo da garganta. O lugar é antigo, mas não há retorno, porque os trajetos, na memória, são sempre novos. Nada é mais inocente e você está mais maduro e até um pouco cismado com tudo. Não temos mais jovens por aqui. O texto, nesses tempos, dizem, está morto.


Virando a esquina, à direita, a placa aponta para o último blog da Terra.





 
 
 

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